sexta-feira, 29 de março de 2013

Uma revista do tempo em que fazer Jornalismo era Realidade

Considerada a maior revista da história do Jornalismo brasileiro, a REALIDADE tem sua trajetória publicada em mais um livro (já foram publicados outros três). "REALIDADE - história da revista que virou lenda", de Mylton Severiano, um dos principais profissionais que trabalharam na publicação, acaba de ser lançado. O blog da revista UNIFICAR recomenda para quem conheceu a REALIDADE ou para quem gosta de revistas. Para saber mais detalhes, clique aqui.


REALIDADE foi uma revista pioneira na publicação de temas até então tabus na Imprensa brasileira como sexo, política, religião. As mulheres eram destaques na revista e a edição especial sobre a Mulher Brasileira chegou a ser aprendida pela polícia por ordem do juizado de menores (como mostra a reprodução abaixo reproduzida pela Veja numa época em que a Veja era uma revista séria).

Imprensa
A revista censurada
A apreensão da REALIDADE de janeiro de 1967 — surpreendente porque o AI-5 ainda não vigorava
Fábio Altman
Jorge Butsen
Roberto Civita (sentado, de terno escuro e óculos), diretor de redação de REALIDADE:
"Éramos um bando de jovens criativos e inquietos, com 30 anos ou menos"
Esta edição especial de VEJA bebe na fonte do número 10 da revista REALIDADE, com data de capa de janeiro de 1967, apreendida por ordem do Juizado de Menores, em São Paulo e no Rio. Ao longo das próximas páginas, VEJA retoma o fio condutor daquela revista – "A mulher brasileira, hoje" – para retratar quatro décadas de mudanças de comportamento. Convém antes conhecer o Brasil da passagem de 1966 para 1967 e entender por que REALIDADE foi subtraída das bancas.

O Brasil de 1966 – o terceiro ano do regime militar – nada tinha a ver com o país que viveria anos plúmbeos, de ditadura e terrorismo, depois da decretação do AI-5, em dezembro de 1968. O ambiente político era incomparavelmente mais tranquilo, embora já houvesse sinais de fechamento. Em fevereiro daquele ano, o AI-3 do presidente Humberto Castello Branco estabeleceu eleições indiretas para governador e prefeito de capitais. Em outubro, ele fechou o Congresso durante um mês, como retaliação pelos protestos dos parlamentares contra a cassação do mandato de deputados. Mas não havia censura nem tortura nos porões.
Veja também
• Naqueles dias...
Nesse ambiente, em abril de 1966 nasceu a revista REALIDADE, da Editora Abril, que dois anos depois lançaria VEJA. Em apenas seis meses, ela já vendia 475 000 exemplares. "Éramos um bando de jovens inquietos e criativos, com 30 anos ou menos, loucos para cutucar todas as onças com varas muito curtas", diz Roberto Civita, à época diretor de redação de REALIDADE, hoje presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril e Editor de VEJA. "Conseguimos, com boas ideias e reportagens muito benfeitas, além de esteticamente bonitas, encantar uma geração – era a revista deles." Não havia tema espinhoso que escapasse do crivo: divórcio (desquite, naquele tempo), sexo, homossexualidade, juventude, drogas, celibato na Igreja e muito mais, assuntos tabus habitualmente sumidos de outras publicações.
Para a edição de número 10, de janeiro de 1967, os editores – que faziam as reuniões de pauta em volta de uma mesa no restaurante do elegante Hotel Claridge, no centro de São Paulo, pertinho da redação – decidiram desenhar o mais completo retrato da mulher brasileira jamais feito. "Tudo nesta edição – desde as cartas até o ‘Brasil Pergunta’ – trata de mulheres. Trabalhando, amando, rezando, pensando, falando... sendo", escreveu Civita na apresentação. Foram seis meses de reportagens. Uma pesquisa encomendada ao mais respeitado instituto daquele tempo, o Inese, ouviu 1 200 mulheres para entregar um amplo panorama do país feminino. A principal chamada de capa: "Edição Especial – A mulher brasileira, hoje". REALIDADE chegava às bancas, tradicionalmente, dois ou três dias antes do mês anotado na capa. Poucas horas depois da distribuição de metade dos mais de 400 000 exemplares, em 30 de dezembro de 1966, uma sexta-feira, a revista começou a ser recolhida das bancas pelas viaturas do serviço de vigilância e ronda especial da polícia, com apoio da Delegacia de Costumes de São Paulo. Os 231 600 exemplares que ainda estavam empilhados na gráfica também foram confiscados – depois seriam triturados.
No despacho, o juiz de menores Artur de Oliveira Costa dizia que a publicação continha "algumas reportagens obscenas e profundamente ofensivas à dignidade e à honra da mulher, ferindo o pudor e, ao mesmo tempo, ofendendo a moral comum, com graves inconvenientes e incalculáveis prejuízos para a moral e os bons costumes". Ele atendia a uma demanda do curador de menores, que tinha sido alertado pelo governador (Laudo Natel), que ouvira o cardeal-arcebispo (dom Agnelo Rossi). "Recebemos a apreensão com espanto", diz Civita.
No dia seguinte ao embargo em São Paulo, foi decretada a apreensão também no Rio. Nas palavras do juiz de menores do então estado da Guanabara, Alberto Cavalcanti de Gusmão, "a revista REALIDADE divorcia-se, destarte, da realidade brasileira e, em matéria de costumes, de moral familiar, intenta promover – ao que parece – uma verdadeira revolução". E mais: "Na reportagem ‘Nasceu’, a revista apresenta sequência fotográfica completa, inclusive o ato da délivrance. Os editores, ao que parece, entendem que com esse realismo estão honrando o nome do periódico. É evidente que, com tal concepção de realismo, a revista chegará, sempre honrando seu nome, às mais incríveis agressões ao decoro público".
Civita lembra-se de ter se incomodado especialmente com esse trecho da decisão do juiz, o que fazia referência às sete páginas da reportagem "Nasceu!", com texto de Narciso Kalili e fotos de Cláudia Andujar, que retratava um parto em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Numa das fotografias, Preta, a grávida, já estava na cama, segundos antes de dar à luz uma menina. As pernas estão afastadas, nota-se a cabecinha do bebê apontando. Os editores de REALIDADE, ao verem a imagem pela primeira vez, foram quase unânimes: "Vai dar encrenca". Civita insistiu na publicação e, para diminuir o impacto, teve uma ideia: pôr a foto no meio das páginas 72 e 73, de modo que ela ficasse discretamente sumida na dobra da revista. Não foi suficiente para aplacar o incômodo do cardeal e das autoridades locais.
A REALIDADE recolhida virou peça de colecionador. Nas bancas, os jornaleiros que conseguiram esconder os exemplares chegaram a vendê-los por preço até cinco vezes superior ao anotado na capa (800 cruzeiros). Dos que leram, houve quem gostou (a maioria) e quem se ofendeu. Na edição seguinte, de fevereiro, existiam vinte cartas de leitores – apenas as duas primeiras condenavam REALIDADE. "Sr. Diretor: estão vendendo pornografia, mas isto vai acabar. Palmas para os srs. Juízes de Menores que saíram em defesa da moral brasileira", escreveu Clementina Soares Mintori, de São Paulo. Em defesa da publicação, Hernani L. Furtado, também de São Paulo, anotou: "Sr. Diretor: com satisfação li num jornal dessa capital que o nº 10 de REALIDADE foi lido num colégio de freiras com o consentimento da Madre Superiora. Estabelecer o diálogo é coisa importantíssima na educação da juventude e qualquer assunto, sem exceção, deve ser discutido e esclarecido para que as gerações de amanhã possam conduzir o Brasil para um futuro mais feliz".
Enquanto os leitores caçavam exemplares escondidos de REALIDADE, o advogado Sílvio Rodrigues, contratado para defender a Editora Abril, impetrava mandado de segurança junto ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O recurso foi rejeitado. No Rio, o advogado João de Oliveira Filho fez o mesmo e em sua petição de defesa chegou a citar a encíclica Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), do papa Paulo VI, que defendia um olhar mais cuidadoso da Igreja para as mudanças da sociedade. Só houve parecer favorável – e definitivo – concedido pelo Supremo Tribunal Federal em outubro de 1968, às vésperas da decretação do AI-5, quase dois anos depois de a REALIDADE nº 10 ter virado papel picado. Nas palavras do voto do ministro Aliomar Baleeiro: "A linguagem é decorosa, a exposição se faz em tom alto e não encontrei apologia do vício, da anomalia ou mesmo da irreverência, enfim nenhum juízo de valor que se possa considerar antissocial".
A liberação veio tarde demais, evidentemente. Houve prejuízos – a Editora Abril chegou a devolver aos anunciantes, em forma de crédito, 50% do dinheiro que haviam desembolsado com páginas de publicidade, o equivalente à metade da tiragem que tinha sido apreendida. Mas aquela apreensão, espantosa por ridícula, ajudou a tornar REALIDADE ainda mais querida (e combativa) para quem a lia. "REALIDADE foi inovadora não apenas na escolha dos temas, mas também na forma como os apresentava, com textos longos, muito bem escritos, misturando jornalismo com literatura", diz Letícia Nunes de Moraes, doutora em história social pela USP, autora de Leituras da Revista Realidade 1966-1968 (Editora Alameda). A edição Mulher de 1967 foi uma espécie de cânone desse modo de fazer jornalismo. "Um modelo, um jeito de tratar de questões do comportamento, que nunca mais foi alcançado", afirma Letícia. Para Cláudia Andujar, a fotógrafa do parto, havia uma palavra a servir de sinônimo para REALIDADE: "liberdade".

Realidade, 1967Veja, 1994Veja, 2010
A mulher em três tempos 
Ao longo desta edição, em quadros com esta cor, o leitor encontrará as respostas a uma parte das perguntas feitas por REALIDADE na pesquisa publicada na edição de janeiro de 1967, às mesmas questões repetidas em 1994 por VEJA e agora, em 2010, em uma enquete realizada pelo Ibope Inteligência. A comparação dos três momentos ajuda a entender os avanços (e alguns recuos) da posição da mulher na sociedade brasileira.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Pelicanos Mercantes anunciam novo encontro

Os integrantes do Grupo Pelicano Mercante decidiram em novembro passado que o IV Woodstock Mercante acontecerá em Angra dos Reis.

Como em 2012, farão um encontro preparatório prévio nos dias 17, 18 e 19 de maio, quando avaliarão  a localidade e deverão homologar o hotel em que se realizará o IV Woodstock Mercante em novembro de 2013.

Segundo os organizadores de 17 a 19 de maio o local se chamará “ Angra dos Piratas” Um pedido especial aos colegas pelicanos: "Traga um Pelicano perdido ao Encontro".

Aliás, os Pelicanos Mercantes são destaque em reportagem na UNIFICAR número 35 que em breve estará disponível no Sindicato e aqui no blog da Revista.





domingo, 17 de março de 2013

Blog da Revista UNIFICAR tem novo logo criado por Cláudio Duarte

O premiado ilustrador Cláudio Duarte, autor das capas da revista UNIFICAR números 34 e 35, é o autor do novo logo do blog da Revista UNIFICAR.


Cláudio fez três opções para o novo logo e a opção número 3 (abaixo) foi escolhida.

Opção 1

Opção 2

Opção 3, a escolhida

Abaixo um painel de algumas ilustrações criadas pelo artista gráfico.


Quem quiser conhecer as ilustrações de Cláudio Duarte para os jornais O Globo e Extra e outras publicações brasileiras e estrangeiras, clique aqui


200 anos de Mauá na UNIFICAR: historiador defende que família Guinle "foi muito mais importante para o Brasil do que Mauá"

A partir de hoje, o blog da revista UNIFICAR vai publicar uma série sobre os 200 anos de Mauá, patrono da Marinha Mercante, que serão comemorados em dezembro. Mesmo informações polêmicas como essa nota publicada hoje na coluna de Ancelmo Gois no Globo. Leia, comente, participe. Mande links e informações de matérias sobre Mauá.

Para ler é só passar o cursor do mouse no recorte do jornal

sexta-feira, 15 de março de 2013

A ITF e as bandeiras de conveniência. Edição 35 da revista UNIFICAR já está na gráfica


Você vai ler também

"Quase nove anos depois de ser abandonado no fim do mundo, Neptunia Mediterrâneo muda de dono e de nome e volta a operar em águas brasileiras. Revista UNIFICAR relembra a tragédia que abalou os marítimos".


As duas imagens acima são meramente ilustrativas. Leia na revista UNIFICAR


Destemida de Cuba, Blogueira Santa ou Oportunista financiada pela Direita?

A imagem acima é meramente ilustrativa. Leia o texto na revista UNIFICAR 35

Revista UNIFICAR 35 também publica artigo sobre a blogueira cubana que visitou o Brasil, virou destaque na Grande Imprensa e foi recebida por parlamentares da Direita e dividiu opiniões. 

Woodstock Mercante também é destaque na Revista UNIFICAR 35

Imagem meramente ilustrativa

Leia a matéria na edição que em breve será distribuída.

Edição de março da Revista Eletrônica já está disponível em pdf



A edição on-line de março da Revista Eletrônica do Centro dos Capitães da Marinha Mercante já está disponível em pdf. Em breve daremos mais informações aqui no Blog da Revista Unificar.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Dicas do blog da revista UNIFICAR: livro histórico sobre o Titanic publicado no Brasil

Para quem gosta de ler sobre o Titanic eis uma boa pedida. O livro, escrito em 1955, nunca tinha sido publicado no Brasil. Veja mais abaixo matéria publicada no site da Folha de S. Paulo.




Relato histórico do acidente do Titanic é lançado no Brasil

IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO

A Amazon brasileira, que estreou anteontem, traz 500 títulos sobre o Titanic. A norte-americana, 3.000 opções. Há desde obras que comparam os menus dos cafés da manhã servidos na primeira e na terceira classes a textos emocionados como "Vovó Sobreviveu ao Titanic".


Há sociedades dedicadas ao navio com eventos anuais (titanichistoricalsociety.org), há sites com histórias de cada sobrevivente (como o titanicpassengers.com) e há até uma enciclopédia on-line sobre o naufrágio (encyclopedia-titanica.org).

Mas há um aspecto do livro escrito em 1955 pelo historiador norte-americano Walter Lord que jamais poderá ser superado: ele entrevistou 63 sobreviventes -o último deles, um bebê de nove semanas no naufrágio, morreu em 2009 aos 97 anos.
Reuters
Botes do navia Carpathia durante resgate de sobreviventes do Titanic
Botes do navia Carpathia durante resgate de sobreviventes do Titanic

O livro ganha agora -no ano do centenário do acidente que matou estimados 1.523 (e do qual sobreviveram 703)- sua primeira edição brasileira.

"Uma Noite Fatídica", tradução de Tomás Rosa Bueno para "A Night to Remember" (uma noite para ser lembrada), é um relato jornalístico sobre a noite de 14 de abril de 1912, um domingo.

Curto, objetivo, direto ao ponto, a obra apresenta o "iceberg logo à frente" já na segunda página.

Na terceira, ocorre o acidente: "Então, de repente, sentiu um movimento estranho romper o ritmo constante dos motores. Um veleiro com as velas içadas parecia estar passando a estibordo [lado direito]. Então, percebeu que era um iceberg, elevando-se, talvez, a trinta metros da superfície [um prédio de dez andares]."
Divulgação
Foto do iceberg responsável por afundar o Titanic
Foto do iceberg responsável por afundar o Titanic

BEST-SELLER
Assim, após o "vago ruído de trituração que pareceu vir das entranhas do navio" por volta das 23h40, Lord leva o leitor aos acontecimentos que desembocariam no naufrágio duas horas e meia depois, "sem campainhas nem sirenes. Nenhum alarme geral".

"Uma Noite Fatídica" foi um sucesso mundial assim que foi lançado, há quase 60 anos.
"Até o livro de Lord, o que a maioria das pessoas tinha lido sobre o Titanic vinha das notícias iniciais e, mais tarde, com a passagem dos anos, de artigos e entrevistas publicadas nos aniversários dos naufrágios", escreve o jornalista norte-americano Daniel Mendelsohn no prefácio à edição brasileira.

Havia também as reminiscências dos sobreviventes, principalmente de tripulantes, que lançavam suas memórias em forma de livros.

Mas, como nota Mendelsohn, "Lord foi o primeiro escritor a juntar tudo com um ponto de vista mais distanciado".

O prestígio de Lord durou até o fim de sua vida, em 2002. Por 50 anos, ele foi chamado para participar de praticamente qualquer projeto que envolvesse o nome
Titanic, incluindo a função de consultor do filme de 1997 do diretor James Cameron.
Um dos raros comentários feitos por Lord em "Uma Noite Fatídica" diz respeito ao destino dos passageiros de terceira classe (leia trecho nesta página).

ESTRELAS
Na metade do livro, quando o Titanic afunda, o historiador se põe a analisar as razões que levaram alguns a serem barrados nos botes salva-vidas e, mais do que isso, a anuência da sociedade da época e dos próprios passageiros mais pobres.

Foi um salve-se quem puder, com a tentativa de respeito a algumas normas. Os oficiais encarregados dos botes não deixavam homens subir, com exceções.

Mas quando a maioria das mulheres e crianças conseguiu seu lugar, não houve dúvidas de que a primeira classe tinha prerrogativa.

Conforme demonstra a demografia da tragédia (quadro à direita), salvaram-se mais homens da primeira classe (32%) do que crianças da terceira (31%), proporcionalmente falando.
A única das sete crianças da primeira classe que morreu foi uma menina de dois anos que se perdeu dos pais na corrida aos botes. Já entre as 80 da terceira classe, morreram 55.
O navio considerado inafundável tinha botes para apenas metade dos passageiros e tripulantes. E, apesar de o navio Carpathia ter partido em socorro imediatamente e ter chegado ao local do naufrágio com o nascer do sol, o frio do mar (a água estava abaixo de zero) diminuiu as chances de sobrevivência.

Outro ponto abordado por Lord é a celebridade dos mortos e o escândalo causado por isso.
Charles Chaplin só lançaria seu primeiro curta-metragem em fevereiro de 1914. Em 1912, não havia a indústria do cinema como hoje, assim como não existia televisão ou superastros da música.

Daí o fato de a "high society" ser a matéria prima para as publicações de fofoca do início do século.
Estavam no navio figuras como o dono da editora Harper, o dono da companhia de transatlânticos do Titanic e o fundador da cadeia loja Macy's -uma classe que viajava para Paris com dezesseis baús de bagagem por casal.

A morte desse grupo foi um escândalo semelhante, talvez, à morte de Tom Cruise, Clint Eastwood, Xuxa, Bob Dylan e Justin Bieber de uma tacada só, no primeiro voo turístico tripulado à Lua.
*
Leia trecho de "Uma Noite Fatídica", de Walter Lord:
A noite foi uma confirmação magnífica da norma "mulheres e crianças primeiro", mas de alguma forma a proporção de vidas perdidas foi maior entre as crianças da terceira classe do que entre os homens da primeira. Esse contraste nunca passaria despercebido pela consciência social (ou pelo faro para notícia) da imprensa de hoje [1955].
O Congresso tampouco se importou com o que aconteceu com a terceira classe. A investigação do senador Smith sobre o Titanic abrangeu tudo sobre o sol, até mesmo do que era feito um iceberg ("gelo", explicou o quinto oficial Lowe), mas a terceira classe recebeu pouca atenção. Apenas três das testemunhas eram passageiros da terceira classe. Duas delas disseram que haviam sido impedidas de ir para o convés principal, porém os legisladores, não deram seguimento ao caso. Também aqui, o testemunho não sugere nenhum acobertamento deliberado -simplesmente não havia interesse.
Nem mesmo os passageiros de terceira classe ficaram incomodados. Eles viam a distinção de classes como parte do jogo. Olaus Abelseth, pelo menos, considerava o acesso ao convés principal um privilégio incluído na passagem da primeira e da segunda classes... mesmo quando o navio estava afundando.
Estava nascendo uma nova era; e, desde aquela noite, nunca mais foram vistos passageiros de terceira classe tão filosóficos.